terça-feira, 11 de maio de 2010

A introdução da fotografia à natureza

Zé Paiva é fotógrafo profissional há pelo menos 24 anos. Nascido em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Zé formou-se em Engenharia Mecânica, mas não seguiu carreira. Estagiou na sucursal do jornal “O Globo” em Porto Alegre, onde aprendeu laboratório preto & branco com Eduardo Vieira da Cunha, hoje um pintor renomado. Trabalhou alguma tempo na Zero Hora e em 1985 se mudou para Florianópolis. Chegando na ilha arriscou abrir o próprio estúdio fotográfico que deu certo. Durante anos dedicou-se a foto publicitária chegando a fazer grandes campanhas nacionais porém, depois de muitos anos cansou da rotina de estúdio. Durante algum tempo levou uma vida dupla: durante a semana era fotógrafo publicitário e final de semana fazia fotos de natureza como hobby. Durante esse período deu aula de fotografia na Universidade Estadual de Santa Catarina para o curso de artes e na Fundação Universidade Regional de Blumenau no curso de publicidade. Foi quando resolveu mudar de vida e investir no seu trabalho autoral.

Atualmente Zé já lançou três livros, o primeiro, pela Editora Escrituras, chama-se "Santa Catarina Cores e Sentimentos". O segundo, um projeto pessoal, saiu pela Editora Letras Contemporâneas com o título “Expedição Natureza Santa Catarina” e o terceiro saiu ano passado, um co-edição entre a Vista, sua empresa, e a Editora Metalivros de São Paulo, chamado "Expedição Natureza Gaúcha".  Zé Paiva possui um banco de imagens, Vista Imagens, e está com outros livros em vista. Hoje, o fotógrafo dá aula na Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, em Porto Alegre e é um master-class de fotografia de natureza.

A participação de Zé Paiva  no Floripa na Foto 2010 será para ministrar duas oficinas sobre a introdução à fotografia de natureza. A primeira turma será nos dias 18 e 19 de maio, às 14h, e a turma extra nos dias 20 e 21 de maio, a partir das 8h.

Confira abaixo a entrevista com o fotógrafo:

Qual o tema da sua participação no Floripa na Foto? 

Fotografia de natureza. Dentro desse tema minha abordagem é genérica e poética. Faço uma expedição e fotografo tudo que me atraia atenção, insetos, aves, mamíferos, arvores, plantas, flores, paisagens. Não sou especialista numa coisa só, nem em natureza. Por que bitolar os fotógrafos? Prefiro ser apenas fotógrafo e não exclusivamente fotógrafo de natureza. Na verdade sou também poeta, músico, escritor, ciclista.. Só que nestas atividades sou totalmente amador. A fotografia é minha profissão.

Você costuma fotografar com câmera digital ou analógica? Por quê? 

Digital pois tem muitas vantagens: ela muda sua relação com a imagem. No momento que eu fotografo, eu vejo o resultado e posso corrigir, isso gera um feedback instantâneo que não existe no filme. Alem disso, eu posso incorporar metadados às imagens, informações que vão me ajudar a encontrar as fotos no meu arquivo. Oura vantagem é poder editar as fotos no laptop durante minhas viagens e expedições. A qualidade, tão debatida quando comparada ao filme , hoje é equivalente ou superior dependendo da câmera. Não sinto falta da textura do filme como muitos fotógrafos. Até prefiro a textura do digital. Acho que é muito apego essa coisa dos fotógrafos que ficaram viúvas do filme.

A popularização da fotografia digital banaliza a profissão do fotógrafo?

Acho que pelo contrário. Se ficou mais fácil fotografar por outro lado isso vai forçar com o tempo que os fotógrafos mostrem o que os diferencia dos amadores. Não é só a câmera, existe a técnica, a sensibilidade, todo um background cultural que entra na hora de compor, de achar o momento decisivo, como dizia Cartier-Bresson.

Você costuma editar suas fotos com programa de edição de imagens? O que acha desta prática?

É absolutamente necessária. É uma grande besteira isso de falarem sobre uma fotografia digital "pura", onde não houve nenhuma interferência de um software. Uma coisa é tratamento da imagem, ajustes de cor, contraste, limpeza, cor, etc. Outra coisa é manipulação onde você tira ou põe elementos que não existiam na imagem. Ora, no tempo do filme, grandes fotógrafos como Ansel Adams, uma referencia quando se fala de purismo, já dizia: o negativo é a partitura da imagem que você vai interpretar no laboratório. Ou seja, ele já se dava conta de que o laboratório era uma interpretação pessoal da imagem do negativo. Na fotografia digital é a mesma coisa. Temos um arquivo original, que pode ser DNG (digital negative da Adobe) ou outro formato, que vai ser interpretado no laboratório digital que é um software, numa tela calibrada. O fotógrafo vai deixar sua imagem como ele acha que tem de ficar para ser impressa ou exibida de outra forma, com liberdade criativa. A fotografia não é e nunca foi a expressão da verdade, um documento. Ela é simplesmente uma representação, como um desenho, um texto, etc.

O que caracteriza uma boa foto?

Para mim uma boa foto é aquela que emociona.

Cite alguns fotógrafos que são referência no seu trabalho.

Edward Weston, Ansel Adams, Frans Lanting, Jim Brandenburg.
Foto: Gustavo Rosadilla

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