quinta-feira, 13 de maio de 2010

José Roberto Comodo, clicando e advogando

José Roberto Comodo (em autorretrato na foto ao lado) é fotógrafo e formado em Direito pela Universidade de São Paulo, sua especialidade é fotografar o ser humano. A cada clique procura tornar o mundo melhor, preservando os sentimentos, seja numa denuncia ou imortalizando a história de uma empresa. Ele conta que a foto tem que ser feita com comprometimento e responsabilidade ao contrario não faz muito sentido produzi-la.
Comodo tem uma preocupação quase que neurótica com a estética, a composição e com o uso da linguagem fotográfica. Busca sempre a harmonia das formas e a construção de imagem fotográfica “acadêmica”, que para ele evidenciam o cuidado na hora do clique.

No evento Comodo falará sobre Direitos de quem produz fotografia e como defende-los e Contratos para uso de obras e de imagens (Licença e cessão), nos dias 18 e 19 de maio. Você não pode perder!


Você costuma fotografar com câmera digital ou analógica? Por quê?

Digital. Sempre. Ainda mantenho no armário a minha velha e boa Leica, mas as câmeras digitais já conseguem oferecer uma qualidade final de imagem superior à captura com filme. Além disso, a tecnologia digital permite que a minha criatividade vá além do momento do clique, fazendo com que a fotografia não se seja apenas um fim, mas também um meio. Finalmente, entendo que a própria velocidade do mundo em que vivemos faz com que a fotografia digital se imponha como uma solução mais rápida - principalmente no segmento no qual atuo, o fotojornalismo. Mas atenção: eu uso a tecnologia digital, mas fotografo como se ainda estivesse nos tempos da fotografia química, com muito critério e usando o Photoshop como ferramenta de criação, não como papel-higiênico.

A popularização da fotografia digital banaliza a profissão do fotógrafo?

Obviamente, a combinação de câmeras digitais com softwares para edição das fotografias contribuiu muito para a banalização da fotografia como um todo, não apenas do ponto de vista profissional. Mas na minha opinião o que banaliza a profissão de fotógrafo não é a tecnologia digital, são os níveis de exigência cada vez menores daquelas pessoas e empresas que consomem fotografia. Quando os consumidores de fotografia passam a colocar o preço como único critério na escolha do fotógrafo, então muitas pessoas que nunca ouviram falar em obturador, diafragma, Iso, distância focal sentem-se à vontade para comprar uma câmera digital contrabandeada, um Photoshop "pirata" e começar uma nova profissão. E, para completar, a falta de corporativismo entre os fotógrafos profissionais contribui muito para a desvalorização da profissão.

Cada vez que um fotógrafo com 15, 20 anos de estrada cobra por um trabalho metade do que cobraria, pois o ciente diz ter encontrado outra pessoa disposta a fazer o mesmo trabalho pela metade do preço, está contribuindo para a banalização. Mas esta é uma questão que rende muitas horas de conversa. Ninguém julga a competência de um médico pelo tamanho do bisturi que ele usa. Mas praticamente todo mundo acha que um fotógrafo é mais ou menos competente em função do tamanho da câmera que ele carrega. Finalmente, nas conversas com pessoas que têm muito mais tempo de fotografia do que eu, percebo um risco muito maior e que não afeta apenas os profissionais da fotografia: o surgimento de toda uma geração sem memória imagética.

 Explico: nunca se fotografou tanto na história. Mas nunca se teve tão pouco cuidado com a preservação daquela história registrada nas fotografias. Outro dia, uma aluna minha foi assaltada e levaram o notebook dela. Junto com o notebook, o ladrão levou 7 anos da vida daquela menina na forma de fotos não "becapeadas". Ou seja, NUNCA MAIS aquela menina irá resgatar a memória de suas viagens, de seus Natais, de seus aniversários, de seus amigos de faculdade... A dimensão deste problema somente será sentida em 20 ou 30 anos...

Você costuma editar suas fotos com programa de edição de imagens (tipo photoshop)? O que acha desta prática?

Todas. Absolutamente todas as minhas fotos passam pelo Lightroom e algumas visitam também o Photoshop. Todas elas connhecem bem as ferramentas para ajuste de contraste, brilho, saturação, balanço de branco e "crop", além do "unsharp mask". Os softwares de edição surgem como uma ferramenta de uso quase obrigatório na finalização de um trabalho capturado com câmera digital. E reconhecer isso não é vergonha alguma. Antigamente utilizávamos uma variedade enorme de filtros para modificar a cena no momento da captura. Depois, entrávamos em um laboratório e, usando os mais variados truques, modificávamos os contrastes e os níveis de exposição de todas as fotos. Os programas de edição, usados em substituição àquelas ferramentas antigas são uma bênção. Mas é muito diferente de usar o Photoshop para esconder a própria incompetência, para corrigir erros na captura que aconteceram por falta de cuidado. Volto a escrever: Photoshop não é papel-higiênico.

Cite alguns fotógrafos que são referência no seu trabalho.

A minha formação fotográfica foi bastante acadêmica - e isso se reflete nas imagens que produzo, seja no meu trabalho autoral, seja no meu trabalho profissional dentro de eventos corporativos. Tenho uma influência enorme de nomes como Robert Doisneau, Cartier-Bresson, Elliot Erwitt e Jeanloup Sieff no meu trabalho. Mas também admiro e estudo bastante nomes como David LaChapelle, Richard Avedon, Patrick Demarchelier e Oliviero Toscani, embora eu não trabalhe com fotografia de moda ou publicitária. Se olharmos o cenário brasileiro, nomes como Walter Firmo, Iatã cannabrava, Juan Esteves, Pisco del Gaiso. Agora, existe um nome que é referência não para a forma como fotografo, mas para a forma como eu me relaciono com a fotografia: Cláudio Feijó.

Um comentário:

  1. Esta semana estive na WEDDING BRASIL e conhecer o pensamento Roberto Comodo foi um privilégio.
    neychama@gmail.com

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