domingo, 16 de maio de 2010

Boris Kossoy, um fotógrafo entre o pensar e o criar

Baile Fantasma, 1971. Foto: Boris Kossoy

Durante a participação no evento, Boris Kossoy vai falar sobre a obra e trajetória na fotografia, caracterizada por ele como “a razão do ser, motivação contínua, permanente desafio que nos move”. O paulista começou a fotografar com 13 anos e, desde então, se dedica ao ofício seja enquanto objeto de estudo, fonte de informação ou instrumento de criação.

Arquiteto, professor, historiador da fotografia, museólogo e fotógrafo, tem sua obra mais conhecida voltada à investigação da história da fotografia no Brasil e na América Latina. Entre os livros publicados, o “Hercule Florence: a descoberta isolada da fotografia no Brasil” foi destaque internacional nos últimos 30 anos devido à pesquisa comprovada sobre a invenção paralela da fotografia no Brasil por Hercule Florence. Suas obras como fotógrafo estão representadas em coleções do Museum of Modern Art, George Eastman House, Bibliothéque Nationale de Paris, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de arte Contemporânea da USP, entre outras instituições brasileiras e do exterior.


Costuma fotografar com câmera digital ou analógica? Por quê?
BK - Até 2005 com a tradicional câmara com filme. Após esta data com ambas. Por que me agradam os diferentes sistemas.

A popularização da fotografia digital banaliza a profissão do fotógrafo?
BK - Não, porque há uma diferença fundamental entre “tirar fotos” e ser fotógrafo.

Costuma editar suas fotos com programa de edição de imagens (tipo photoshop)? O que acha desta prática?
BK - Considero o photoshop apenas um instrumento e não um editor de imagens. Edito imagens com a cabeça e o coração.

O que caracteriza uma boa foto?
BK - Não existe uma fórmula que “caracteriza uma boa foto”. Basicamente é aquela que nos emociona individualmente.

Cite alguns fotógrafos que são referência no seu trabalho.
BK – Walker Evans, Bill Brandt, Helmut Newton, entre outros.

Por que o senhor se caracteriza como um fotógrafo entre “o pensar e o criar”?
BK – Eu diria que o pensar e o criar são constituintes da minha obra teórica, histórica e artística. Minha produção nessas áreas podem bem esclarecer sua pergunta.

No seu site, o senhor diz que a fotografia é uma motivação contínua, desafio que o move. Como surgiu essa paixão?
BK - Desde muito cedo a fotografia foi a forma de expressão que descobri para compreender o mundo e escapar do obvio e das convenções. Mostrar que existe algo além do que é visto e, em geral, captado estritamente na aparência. Alterar, enfim, uma certa ordem estabelecida.

O senhor utiliza a fotografia como objeto de estudo. Isso significa que ela é uma verdade absoluta?
BK – Em minhas investigações acadêmicas a fotografia é meu objeto de estudo. Isto não significa que ela seja uma “verdade absoluta”.

Em entrevista, o senhor afirma que toda fotografia é documental. É possível descobrir a “história” que determinada imagem carrega? Como? Quais são as características analisadas?
BK – Toda imagem tem atrás de si uma história... Para descobrir os enigmas que encobre, as vicissitudes porque passou, ir além de sua superfície, isto é, decifrar sua realidade interior, enfim, são questões que eu não conseguiria resumir aqui. Melhor ler meus livros.

A fotografia é usada como fonte em suas pesquisas? Levando em conta a possível manipulação obtida com as novas tecnologias, de que forma podemos saber se o que está expresso na imagem retrata a realidade?
BK – Parece que temos aqui duas perguntas. Então vejamos a primeira: sim, a fotografia é a fonte fundamental em minhas pesquisas. Quanto à “possível manipulação obtida com as novas tecnologias”, que você menciona, gostaria de comentar que, em toda fotografia, existe um determinado grau de manipulação, que começa na forma como o fotógrafo enquadra seu assunto e segue ao longo de todo o processo de construção da representação, o que inclui a pós-produção, seja no laboratório convencional, químico, a câmara escura, seja no digital, eletrônico, no monitor e no computador. A manipulação é constituinte da imagem fotográfica posto que essa é construída sempre, seja na fotografia a base do colódio, do século XIX, seja ela obtida segundo as “novas tecnologias”, do século XXI. Finalmente, e em função do antes exposto, o que está expresso na imagem é uma interpretação da realidade do fato que ocorre no mundo concreto. É o que chamei de realidade da fotografia, isto é, uma segunda realidade, a realidade da representação.

Por que o senhor afirma que o fotógrafo é o criador da imagem? A fotografia não é o retrato de algum acontecimento real? Como o profissional pode influenciar na imagem?
BK - O fotógrafo é o criador da imagem, porque a imagem não se forma por si só como se se tratasse de um passe de mágica. O “acontecimento real” que você menciona é visto, compreendido, capturado segundo a visão de mundo do fotógrafo; é ele o mediador, o filtro, o intérprete do acontecimento que registra. A câmera e todo o equipamento necessário para a produção da imagem fotográfica, qualquer que seja o sistema, são os instrumentos materiais e a tecnologia que tornam factível o mental e o emocional.

O que é mais importante na hora de captar uma imagem: a técnica ou olhar do fotógrafo?
BK – Respondida nas anteriores.

O que exatamente será abordado no Floripa na Foto (sua trajetória como fotógrafo, pesquisador, professor, livros, estudos)?
BK – Todos esses aspectos estão conectados e devem ser explicitados na abordagem.

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